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O dia em que Charles Miller inventou um país

Domínio Público

Charles Miller em 1983 na cidade de Southampton – Domínio Público

O país do futebol é invenção de um brasileiro de ascendência escocesa, por parte de pai, e inglesa, por parte de mãe, que voltou de uma temporada de estudos na Inglaterra com duas bolas, uma bomba de ar, alguns uniformes e um livro de regras, e improvisou uma pelada num campo de várzea do Brás paulistano no dia 14 de abril de 1894.

Sob os auspícios e a liderança de Charles Miller, enfrentaram-se funcionários de duas empresas inglesas instaladas em São Paulo: a São Paulo Railway e a  Gas Company of São Paulo. Como ainda acontece em muitas peladas pelo Brasil afora, o São Paulo Railway, time do dono da bola, venceu por 4 a 2.

Estava dada a saída. A bola tomou conta do Brasil, espalhou-se por todas as regiões, é o mais universal dos nossos ícones culturais, mas anda murchando ultimamente.

Será que continuaremos sendo reconhecidos em todo o vasto mundo da bola como o país do futebol por mais 120 anos?

A única novidade são os estádios

Daqui a pouco mais de quatro meses, se completará um ano do mais estrondoso vexame vivido pelo futebol brasileiro desde que Charles Miller voltou de uma temporada de estudos na Inglaterra com duas bolas, um par de chuteiras, alguns uniformes e uma cópia das regras do jogo e começou o trabalho de difusão do novo esporte no País.

O aniversário da derrota por 7 a 1 para a Alemanha, nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, será duplamente lamentado – tanto pelo vexame em si quanto pela situação de penúria em que continua afundado o nosso futebol doméstico.

Desde a tragédia do dia 8 de julho, testemunhada no Mineirão por 58.141 incrédulos torcedores de todo o mundo, cresceu a dívida dos grandes clubes, vários bons jogadores deram adeus aos campos do Brasil, desmontaram-se dois ou três bons times  ainda em formação, acumulam-se os atos de violência das torcidas ditas organizadas de Norte a Sul, fortificou-se o lobby da Globo contra o Brasileirão dos pontos corridos.

A única boa novidade pós-Copa são os modernos estádios que deveriam estar recebendo mais gente e jogos de melhor qualidade técnica.

Hoje, ninguém sabe o que será o futebol brasileiro de amanhã. Por quer diabos, então, voltar a publicar um blog sobre esportes, especialmente sobre o nosso futebol de cada dia? Desculpe repetir aqui o que escrevi na coluna Apito Legal, publicada no site Migalhas, no dia seguinte à conquista do título mundial pela Alemanha:

– São tantas as análises, os meros palpites, as boas e más intenções, os interesses dissimulados ou ostensivos publicados nos últimos dias sobre o que fazer com o futebol brasileiro nos próximos tempos que mal consigo digerí-los e processá-los. Esta é uma discussão e uma tarefa de todos os brasileiros que se interessam pelo futebol. Foi a sociedade que o criou e tantas vezes o reinventou pelos campos do Brasil afora. É, portanto, a nação que pode salvá-lo mais uma vez – e não cartolas ou governantes.

Na esperança, talvez vã, de dialogar com todos os brasileiros que se interessam pelo futebol, aqui estou de volta, pouco antes de São Paulo e Corinthians se enfrentarem pela segunda vez nesta temporada de 2015, que está apenas começando.

Neste domingo, nem o estádio é novidade. O jogo, pelo velho Paulistão, será no vetusto Morumbi.