Em outros tempos, quando seu time enrolava muito o jogo e mais se defendia do que atacava, ele tratava de também enrolar a linguagem nas entrevistas e mesas redondas. Falava em titês, um dialeto aparentado com o lazaronês, embora seu criador, tendo sido boleiro, jamais tenha chegado ao exagero de se dispor a galgar parâmetros, como se obrigava em outros tempos o colega Sebstião Lazaroni.
Galgou-os, no entanto. E como!
O futebol contido e a fala empolada lhe deram, em outra encarnação no Corinthians, os títulos de campeão brasileiro de 2011, campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2012.
Foi, no entanto, ao reencarnar com a camisa corintiana, depois de um ano longe do trabalho nos campos de treino e de jogo, procurando conhecer de perto o que fazem seus colegas de profissão no futebol europeu, agora cada vez mais antenado com os novos rumos da bola pelo mundo afora, que o gaúcho Adenor Leonardo Bachi se transformou em unanimidade nacional que muitos gostariam de ver no comando técnico da Seleção.
Parece outro treinador este Tite que voltou ao trabalho nesta temporada depois de assinar novo contrato com o Corinthians no finalzinho de 2014.
Continua sério, embora bem humorado, dedicado e sincero, mas parece mais leve e feliz no trato com os boleiros e os torcedores e acrescentou ao repertório do time opções ofensivas que aquele Corinthians multicampeão de 2011 e 2012 nem sonhava exercitar.
O que mudou?
A chave para entender o novo Tite talvez esteja numa entrevista que ele deu a Marcelo Rizzo, da Folha, ainda em março (para ler, clique aqui), em que conta o que mais o marcou nos cinco dias de convivência com Carlo Ancelotti, acompanhando o trabalho do colega italiano no Real Madrid:
– O que levo dele é exigir concentração alta dos atletas o tempo todo. Ele abriu seu sistema de trabalho de uma forma que, admito, eu não faria com outro profissional.
O Corinthians de 2015 é um time permanentemente ligado, dos treinos aos jogos, passando às vezes até pelos curtos períodos de folga.
O Tite de hoje, embora menos tenso, parece o Bernardinho de sempre. Não faz muito tempo, até contou que dorme com um caderno de anotações na cabeceira e, às vezes, acorda para registrar recados para ele mesmo ler no dia seguinte.
Sorte dos seus pupilos corintianos. Bernardinho dispara, no meio da noite, recados para os seus jogadores, às vezes simplesmente perguntando o que eles fizeram naquele dia para alcançar uma ótima performance no próximo jogo ou na próxima competição.
Tite é mais relax. Nem por isso está menos alerta. Mais do que o novo desenho tático, a distribuição mais equilibrada do time, a movimentação incessante dos jogadores e o alargamento do campo de ataque com a abertura dos meias em direção às laterais, o segredo do Corinthians campeão brasileiro de 2015 é a permanente mobilização mental.
Tite conseguiu fazer Cássio, Fagner (Edílson), Felipe, Gil, Uendel (Guilherme Arana), Ralf, Elias, Renato Augusto, Jadson, Malcom (Lucca), Vagner Love (Luciano), Danilo e companhia menos assídua jogarem tudo o que podem – às vezes, quando a necessidade aperta, um pouquinho mais do que sabem.
Tite simplificou a linguagem e galgou parâmetros.
Por isso, o Corinthians é hexacampeão brasileiro – vença, empate ou perca o jogo desta quinta-feira contra o Vasco.